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O que aprendi nestes anos de carreira ou a era das receitas prontas
04/02/2017 Adriano Meirinho 0
Lá em 1995, quando comecei a me interessar por internet, tudo parecia promissor. A ideia de trabalhar “com internet” era fascinante, mas ao mesmo tempo totalmente misteriosa. Não existiam lugares para você aprender a montar um site, aprender uma linguagem de programação, aprender a utilizar os sistemas. Existiam sites e portais “vendiam espaço para banners”.
Sabe aquela história de que hoje tudo está no Google? Não existia nem um Google para te facilitar a vida. Basicamente, não existiam ferramentas prontas. Era a época onde você tinha que ser autodidata, curioso e ambicioso – talvez audacioso! Com o tempo, aprendendo tudo sozinho em literaturas offline, entrei em uma startup que estava sendo incubada dentro de um ambiente de trabalho totalmente offline.
Éramos o “departamento de internet”, onde vários meninos (sim, tínhamos 17, 18, no máximo 20 anos) estavam com a mesma ambição: descobrir aquele terreno ainda inexplorado e encontrar soluções para problemas que hoje não existem mais. Todos tínhamos os mesmos interesses e as mesmas virtudes, aprendíamos na marra, na tentativa e no erro, em nossos próprios algoritmos e com nossos próprios processos. Todo mundo era um “full stack” em seu ambiente de trabalho: “os do marketing”, “os da criação”, “os da programação”.
Com a passagem dos anos, as coisas começaram a aparecer prontas na internet: frameworks, softwares disso e daquilo, templates, guias, códigos prontos, entre outros. E o que aconteceu? Os profissionais pararam de criar e passaram a consumir pacotes prontos, softwares que entregam tudo em mãos, soluções rápidas para processos complexos, manuais, padrões, receitas prontas para toda e qualquer atividade.
Sim, é animador ver que várias startups nasceram para resolver problemas, que as soluções para nossos problemas estão a um click de distância, são entregues em nossas mãos, simples, rápidas e terceirizadas.
Mas me pergunto, aonde estão os verdadeiros desenvolvedores hoje em dia? Essa falta de auto suficiência camuflada a partir de softwares e ferramentas acabou em muito com nosso poder de ação, nos colocando em uma postura passiva diante dos processos de criação que já chegam prontos em nossas mãos. Assim como previu Ford, nós participamos cada vez mais de apenas uma parte do processo, sem entender o todo e como isso chegou até ali.
Existem muito mais customizadores de código, customizadores de ferramentas, customizadores de framework, operadores de dashboard, do que realmente desenvolvedores – e quando falo desenvolvedores, não digo que são programadores, mas sim todos os profissionais que estão ali pra desenvolver alguma atividade. Na área de marketing como exemplo, com tantas ferramentas, com tantas soluções, com tantas receitas prontas, acabamos deixando nossos processos, dados e resultados armazenados em empresas terceiras, sem que as duas partes (sua empresa e a fornecedora) se conversem – raramente acontece. Para isso são desenvolvidas tantas outras plataformas que integram com outras. Parece que, ao solucionar um problema, acabamos criando muitos outros. Eis a era de ter tudo, mas não ter nada integrado.
Hoje, em época de crise, vejo que muitas empresas estão contratando full stackers, aqueles profissionais multi tasks que possuem em seu desktop mais de 20 ferramentas para realizar cada função. Voltamos lá atrás, onde um profissional tinha domínio do todo e não apenas de uma parte. Eu particularmente adoro trabalhar com full stackers!
E se virássemos tudo de cabeça para baixo? E se repensássemos nossos ambientes de trabalho? E se usássemos apenas papel, caneta e nossa capacidade de criar para rever alguns desses caminhos? Nosso baralho organizacional está viciado há muito tempo. É preciso trocar de baralho.
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